Os últimos 2 anos foram tumultuados na vida do cantor e compositor Scott Weiland. Desde 2007, Scott perdeu um irmão em consequência de overdose de drogas, descobriu que sua mãe tinha cancer, gravou o segundo álbum de sua banda no momento, Velvet Revolver, teve uma recaída em relação as drogas após anos limpo, brigou com seus companheiros de banda (ex membros do Guns and Roses), saiu/foi demitido da banda (?), enfrentou o fim de seu casamento com a modelo Mary, reuniu-se aos colegas de sua antiga banda Stone Temple Pilots para uma turnê pelos EUA, visitou a América do Sul duas vezes com duas bandas distintas, e aqui chegamos ao segundo semestre de 2008, quando lançou seu segundo disco solo, Happy in Galoshes.
Happy in Galoshes é, a exemplo do meu post anterior neste blog, um álbum onde a capa pode dizer bastante sobre o disco, mas de uma maneira diferente. O título "Happy" sugere uma felicidade instantânea, quase que como uma pílula, ao mesmo tempo que a expressão de Scott na capa é melancólica. A ilustração lembra as camisetas de nossos tempos, que revivem o indie dos anos 80. E há sim uma faixa indie neste álbum, para surpresa dos que conhecem o cantor, bastante influenciado pela sonoridade do gênero setentista glam rock. O interessante deste álbum é que as duas sensações que a capa transmite, felicidade instantânea e melancolia, se alternam por todo o álbum, e o álbum pode oferecer impressões diferentes ao ouvinte de acordo com o humor de cada um no momento. Em uma época como o final do ano, em que se alternam festas com a revisão do que fizemos no ano, esta alternância de felicidade e melancolia parecem se encaixar perfeitamente a estes tempos.
O álbum começa com uma canção tão setentista e alegre quanto a canção glam "All the young dudes" . "Missing Cleveland" acabou virando clipe e single também. A música fala de nostalgia, e é tocante ouvir trechos como "I'm missing Cleveland in the snow" durante sua execução. A segunda faixa é a ensolarada "Tangle with your mind", aqui Scott soa realmente feliz, tranquilo e relaxado. Nunca gostei muito do som dos anos 00, e Scott, a exemplo do som que fez em 1998 quando tentou fazer uma música de hip-rock no Stone Temple Pilots ("No way out", do álbum "N.º 4"), faz uma música relacionada aos dias de hoje, tempos de releitura dos anos 80. A faixa, que se parece muito com Libertines (uma das poucas bandas de Indie rock do começo dos anos 00 que eu respeito), se chama "Blind Confusion". "Paralysis"parece remeter ao divórcio de Weiland ("...Smoked my last cigarette, took a look at the bed, the one that we called home..."). Scott soa bastante como David Bowie nesta faixa e em outros momentos do álbum. Apesar disso, a cover de "Fame" de Bowie parece um tanto perdida em meio às outras músicas.
Minhas preferidas são as primeiras do álbum, as 2 músicas de estilo parecido com MPB e mais três canções. "Crash" foi anunciada como single, se eu não me engano, e possui toques eletrônicos combinados a um belo vocal de Weiland. "Sentimental Halos" é leve e sutil, e faz lembrar as faixas mais calmas dos últimos álbuns do Stone Temple Pilots. Mas minha predileta é uma canção que Scott compôs antes de entrar para o Velvet Revolver, a tocante "The Man I didn't Know", que parece falar de uma relação pai-filho, com arranjos que parecem remeter a um filme de faroeste.Infelizmente ela só pode ser encontrada na versão dupla do álbum, mas pode ser encontrada no youtube também.
"Happy in Galoshes" foi lançado em duas versões, uma simples e outra dupla (veja setlists abaixo), e possui diferentes sonoridades por todo o álbum em ambas as versões, mas não deixa de ter uma identidade própria e a cara do ex vocalista do Velvet Revolver, que não funciona como uma mera cópia de Bowie, embora ele tente bastante. Há refrões setentistas a la fase "Tiny Music..." do Stone Temple Pilots(caso da faixa de abertura e de "She sold her system"), há momentos mais experimentais que fazem lembrar o primeiro álbum de Weiland, caso de "Big Black Monster", e há casos que o experimental chega a parecer os projetos solo do ex vocalista do Faith No More, como em "Hyper-Fuzz-Funny Car". Há o pop fácil em faixas como "Blind Confusion" e "Blister on my soul ". Há um pouco de MPB, caso das faixas "Killing me sweetly" e "Somethings Must Go this Way", para quem estava acostumado a esta face do cantor nos idos tempos de STP. Há o grandioso confrontando com um lado "radiohead" em "Pictures and Computers". A beleza vai até o piegas nas melodias de "Arch Angel" , e "Sometimes Chicken Soup".
E a coisa não para por aí. Há uma regravação de um antigo lado B de Weiland/STP, "Learning to Drive", que vem agora sob o nome de "Beautiful day" e mais uma cover, bem fiel em relação a original, "Reel around the fountain" dos Smiths, que ficou bem bacana. O disco simples fecha quase com a música de vocal arrastado "Be not afraid", que parece história pra criança dormir, e soa estranhamente natalina.
Setlist álbum simples
1. Missing Cleveland2. Tangle With Your Mind3. Blind Confusion4. Paralysis5. She Sold Her System6. Fame7. Killing Me Sweetly8. Big Black Monster9. Crash10.Beautiful Day11.Pictures & Computers (I'm Not Superman)12.Arch Angel 13.Be not afraid
Setlist álbum duplo
Disc 1
Missing Cleveland, Tangle With Your Mind, Blind Confusion, Paralysis, She Sold Her System, Blister On My Soul, Fame, Killing Me Sweetly, Big Black Monster, Beautiful Day
Disc 2
Crash, Hyper-Fuzz-Funny-Car, The Man I Didn't Know, Sometimes Chicken Soup, Somethings Must Go This Way, Pictures And Computers (I'm Not Superman), Sentimental Halos, Reel Around The Fountain, ArchAngel
Link álbum simples
http://teoriamusikaos.blogspot.com/2008/12/scott-weiland-happy-in-galoshes.html
Links do youtube (dá pra ouvir cada faixa sem precisar baixar)
http://www.youtube.com/watch?v=9ejGWkv1y90&feature=related
PS: Este é o link de uma faixa, mas dá pra ouvir as outras pelos atalhos do Youtube.
Videos
Missing Cleveland
Paralysis
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Scott Weiland - Happy in Galoshes
Postado por wauchida às 16:58 0 comentários
Marcadores: 2008, David Bowie, Hapy in Galoshes, Scott Weiland, Stone Temple Pilots, STP, Velvet Revolver, VR
Chinese Democracy - uma abordagem franca
Postado por wauchida às 10:45 2 comentários
Marcadores: Chinese Democracy, New Guns
Rock'n roll Circus - Quando os elos se fecham
Quando comecei este tema meses atrás, pensei no quão pequeno é este mundo de rock'n roll americano. Pensei em escrever com suspense uma série de posts que teriam sim sua amarração, mas acabei não conseguindo. E eis que estou aqui, em SC, finalizando o ano e alguns assuntos não acabados.
Resumindo a história toda: Axl Rose tem como braço direito nas guitarras um cara com um jeito tanto estranho mas peculiar de tocar, e muito querido pelos fãs da invenção bizarra que hoje é chamada de "novo guns": Robin Finck, ex/atual (?) guitarrista do Nine Inch Nails. E isso não deixa de ser interessante, pois acaba sendo mais um elo da relação de 2 bandas que gosto muito, Guns and Roses e Stone Temple Pilots. Vejam só: Anos após a separação do Guns, Slash, Duff e Matt acabaram se juntando a Scott Weiland, que na ocasião estava deixando o Stone Temple Pilots, para compor a formação que durou cerca de 4 anos do Velvet Revolver. Os membros que faziam o coração do STP, o conjunto de cordas baixo-guitarra formado pelos irmãos Robert e Dean Deleo, se juntaram a Richard Patrick, fundador do Filter e ex-Nine Inch nails, para formar o ótimo conjunto, de morte prematura, Army of Anyone. O interessante é que, na época que Patrick deixou o Nine Inch Nails, foi substituido por Robin Finck. Foi pouco depois da época que seu irmão, Robert Patrick, fez o vilão do filme exterminador do futuro 2, cuja trilha sonora chefe era a canção "you could be mine" do Guns and roses.
Vejam só o que tínhamos: Nas camadas de borda, 2 bandas que contavam com ex guitarristas do NIN como elementos chave, o Novo Guns e o Army of Anyone. No centro, o elo do que restou das ex bandas das camadas de borda, Guns and roses e Stone Temple Pilots formando o Velvet Revolver. As pessoas em comum são muitas, e eu passaria muito tempo relacionando todas as possibilidades: Brendan'o Brien produzira todos os álbuns do STP e alguns do Pearl Jam, banda cujo vocalista do STP sofreu péssimas comparações no início da carreira do STP: Weiland foi julgado como uma imitação de Vedder do PJ. Brendan iria produzir o VR anos mais tarde a pedido de Weiland, que contém ex integrantes do GNR. Brendan andou produzindo também Bruce Springsteen, que foi uma das influências de Axl Rose e inclusive fez um dueto com o vocal do GNR no fim da década de 80.
David Bowie é uma das principais influências de Scott Weiland, e foi amante da mãe de Slash nos anos 70, como conta Slash em sua recente biografia. Bowie teria ainda ligado para Slash dando conselhos sobre abuso de drogas à pedido da mãe do guitarrista, nos idos tempos de GNR. Outro fator interessante é a simpatia de Robert Plant e Jimmy Page pelos ex integrantes do GNR. Scott não pôde desfrutar da tietagem dos ex Led Zeppelin, pois, quando os 2 foram ver o VR e entrar nos bastidores pós show, a relação de Scott com os demais integrantes já estava pra lá de ruim, com fim de banda decretado e tudo mais, neste ano de 2008. Justo Scott, cuja ex banda, STP, tem músicas claramente zeppelianas com solos de guitarra pra lá de jimmypagianos , sem mencionar o fato do STP ter regravado "Dancyn´Days" para um tributo ao Zep em 1993/94, e sem mencionar a bela cover instrumental que Dean Deleo do STP tocava de "Rain Song" do Zeppelin nos shows do Army of Anyone...
Um outro cruzamento interessante envolve o nome do baterista Josh Freeze. Josh, que já tocou em uma banda que alguns aqui podem ter ouvido falar, "A perfect circle", tocou bateria no início das gravações do álbum Chinese Democracy do new guns, e tocou também bateria no último álbum do Filter, o ótimo "Anthem for Demand". Só para lembrar, o Filter é a banda de Richard Patrick, o vocal do projeto solo dos irmãos Deleo do STP, Army of anyone.
Lembrei também de Nick Didia. Nick foi engenheiro de som do STP, VR, PJ e Bruce Springsteen.
Postado por wauchida às 10:00 0 comentários
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