quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Chinese Democracy - uma abordagem franca


Um pouco da novela

O post que escrevi meses atrás não faz muita jus à minha espera e à reação ao álbum que foi lançado, por isso, resolvi fazer este post como uma abordagem franca.

Entre 2002 e 2003 , quem quer que gostasse de rock que eu encontrasse no caminho e que eu tivesse algum nível de amizade, eu tentava fazer ouvir as poucas músicas recém aperfeiçoadas do chamado "New Guns"que sairiam no lendário "Chinese Democracy" em um futuro sabe se lá Deus quando. Eram músicas boas, que provavam que Axl Rose, apesar de ter perdido sua voz, ainda era um bom compositor. As músicas em questão eram "Madagascar", "The Blues" (lançada posteriormente no Chinese Democracy sob a alcunha de "Street of Dreams") e a mediana (para ser bonzinho, no mínimo) faixa título do álbum.

Os anos passaram, e apesar da angústia do álbum que nunca saía, novas versões vazavam na Internet, e, ao passo que o arranjo de The Blues e Madagascar piorava em alguns pontos e melhorava em outros, uma surpresa boa foi que a voz de Axl recuperou um tom rouco muito parecido com o dos tempos do antigo Guns. Apesar disso, nas esparsas turnês de 2006 e 2007, eu nunca entendi porque Axl insistia tanto em cagar na hora que cantava Sweet Chield 'o Mine, o fazendo com a voz da velhinha surda do programa "a Praça é nossa". O tempo passou, outras músicas vazaram, como a "queeniana" Catcher in the Rye, e a ótima mas um pouco passada "Better". Os sinais de que o álbum sairiam eram esparsos, pra lá de 2006 "Better" foi incluída em um comercial de motos, que acabou não saindo. Até que, em 2008, alguns sinais começaram a aparecer, pouco após a crise que levou o Velvet Revolver, dos ex integrantes do GNR, a perder seu vocalista, Scott Weiland. Axl contratou um profissional ligado ao VR ( o empresário, se eu não me engano), o que me pareceu um pouco estranho, pois aquilo parecia ser uma espécie de disputa com Slash, enfim. E Axl lançou uma música nova chamada "Shackler's Revenge" para um jogo de videogame. Houve também a história de uma balada do disco que iria para a trilha sonora de um filme, a bizarra jogada de marketing do fabricante de refrigerantes Dr. Pepper, a prisão do fã que vazou boa parte do álbum na net, e uma estranha estratégia de Marketing que incluiu lançar a fraca faixa título, na versão do álbum, que contava com um início extendido, algo pouco comum, ainda mais levando em conta uma faixa tão fraca, ao invés de "Better", a faixa de rock mais forte do disco. Dito tudo isso, o álbum foi lançado, e a capa, mais uma vez, fez jus a criação de Axl tal qual as capas de Apetite for Destruction, Lies e Use Your Illusion fizeram aos álbuns anteriores.

O álbum

Chinese democracy começa com a faixa título, uma música industrial que demora para começar e para terminar, e , de longe, não deveria ser a faixa título de um álbum tão adiado e aguardado.

Após este esboço de música industrial, as intenções de Axl de contratar um ex integrante do Nine Inh Nails ficam claras na faixa seguinte, que mencionei que virou trilha de videogame, "Shackler's Revenge". Esta faixa é uma fraca imitação de Nine Inch Nails, algo triste levando o nome do GNR, e é tão boa e significativa para a carreira do GNR quanto "My World" , faixa lançada no disco "Use your Illusion 2" (fãs de GNR sacarão o que eu quis dizer no ato).

"Better" aparece como algo melhor, tentando salvar o disco na terceira faixa. A batida eletrônica do início já soa fora de época em um sentido negativo , felizmente, a mágoa na voz e nas letras de Axl, sua voz recuperada e os riffs do guitarrista Robin Finck valem a canção, que possui apenas uma parada desnecessária no meio, algo que também parece datado, mas que podia ter soado ao menos contemporâneo se o disco tivesse sido lançado anos atrás. Há também um solo masturbatório seguido de guitarras nine inch naianas antes da paradinha no meio da música. Felizmente, Robin conserta a música em um outro solo, este, cheio de emoção, após a parada.

"Street of Dreams" é a boa e velha "The Blues", mais bem trabalhada e com uma produção mais limpa, o que não significa que seja melhor do que alguma das versões anteriores que vazou da música na internet. Ela tem um piano que permeia toda a música, e é doce como "Breakdown"do Use your Illusion 2, mas as partes de guitarra, na opinião deste leigo ouvinte, são menos complexas que a referida canção do álbum Use Your Illusion azul, embora não tenham necessariamente ficado ruins. A canção é boa, seus solos não são ruins e até há um feeling bacana de Robin Finck, mas, de tão boa no meio do mar que é este disco, fica a curiosidade: como seria esta canção se tivesse sido trabalhada por Slash, Duff e Izzy? A canção termina com um final exagerado por parte de Axl, mas sem qualquer clímax instrumental significativo por parte da banda. O que poderia ser uma compensação da falta de clímax pelos instrumentistas acaba se tornando um final brega e afetado por Axl.

"If the World" começa com uma batida eletrônica, com cordas em estilo cigano e um sintetizador, e Axl consegue estragar quando entra com sua voz de velhinha da praça é nossa. Será que ele achou este seria um novo estilo bacana para usar sua voz? A canção tem quase 5 minutos, e quando ouço ela me vem uma sensação parecida com a que tenho quando ouço a faixa título do álbum: a canção vai se desenrolando, você espera algo que vá melhorar a música, até que...
nada acontece. Não sei porque Axl, que supostamente tinha mais de 30 músicas compostas, colocou este lixo que não serve nem como Lado B de álbum. Francamente...

"There was a Time" começa com um estranho coral de igreja e evolui para uma batida trip hop. Eu já havia a ouvido antes, e considero que é um ponto forte do disco, em termos de melodia, riffs e letra, enfim, uma bola dentro do novo Guns. Posso ver aqui que o ex-baixista do Replacements, chamado por Axl de "General" Tommy Stinson por ter comandado a banda nova, fez um bom trabalho. É um dos poucos momentos, como "Street of Blues" e "Better", que fazem valer a pena ouvir o esforço de Axl nos últimos tempos.

"Catcher N' The Rye" tem uma boa melodia, é também uma faixa com pianos, e se parece de certa maneira com o que o Queen fazia nos anos 70. É, de certa maneira, estranha: é excessivamente trabalhada, mas falta uma guitarra solo de presença que faça frente ao piano da música, tal como há em "Estranged"e "November Rain"do antigo Guns. Esta faixa, que conta com um solo a la "Brian May"do Queen, é uma das poucas, juntamente com as mencionadas acima, que merece ser levada a sério, daí as comparações com 2 épicos do Guns. Infelizmente as comparações são mais o que a música poderia ter se tornado do que o que ela se tornou, uma pena.

"Scraped" começa com um conjunto de gritinhos de menininha de Axl que, quando ouvi, pensei "Que m... é essa?". A letra é adolescente ("Don't try to stop us now..." - será que ele se refere aos seus ex companheiros de banda?) e a melodia, a música, o solo, enfim, a canção parece um conjunto de remendos que merecia ficar esquecida em algum lado B.

Eu já havia ouvido "Rhiad N' The Bedouins"quando me chegou aos ouvidos o show que Axl fez no ano novo de 2001, e , na época, o perdoável era que Axl estava se reerguendo, e de certo esta faixa seria esquecida e trocada por coisa melhor no álbum. Infelizmente, não foi. Esta faixa, com guitarras a la Nine Inch Nails, é mais uma canção esquecível que combina o antigo estilo vocal de Axl com o estilo de velhinha da praça é nossa.

"Sorry" começa com um vocal ressentido e uma batida lenta, e parece um desabafo sobre fatos passados. Seria uma música mediana de alguma banda desconhecida se não conhessesemos o talento de Axl e o que ele fez no passado. Diante deste cenário, chega a soar um pouco triste. É mais uma música que carece de uma ajuda da banda, de uma segunda mão para transformar a música em algo bom, por mais que os solos de guitarra não soem ruins.

"IRS" começa com uma guitarrinha bacana, e sua letra parece ter saído de um seriado policial. Tem uma melodia bacana, que por vezes se encaixa na voz de Axl quando ele não faz a voz daquela personagem do programa comandado por Carlos Alberto Nobrega no SBT. Há um solinho desnecessário que está lá só para fazer passar o tempo, mas não deixa de ser uma música bacaninha, passável. O que salva é uma guitarrinha com soul, provavelmente obra de Robin Finck, que começa com a música e a permeia até o fim.

"Madagascar" tem um começo épico, com um órgão que faz lembrar grandes músicas antigas como "Dream on"do Aerosmith. A entrada de uma batida trip hop foi uma boa sacada de Axl. A letra é amargurada, e é uma canção épica mesmo, prova que o talento de Axl não se perdeu totalmente com o passar dos anos. Infelizmente, da versão que ouvi de um Axl gordo na furada apresentação da nova banda no Rock in Rio 3, algumas coisas mudaram. Axl colocou sua ótima voz rouca em uma versão que ouvi nos shows de 2006, mas a voz na versão final que ouvi no disco ficou um pouco estranha. O primeiro solo que ouvi no RIR 3 de Buckethead na ocasião, simples, fora substituido por uma entediante versão extendida composta pelo próprio ex guitarrista anos anteriores, e infelizmente, esta versão foi para o disco. Detalhes de superprodução acabam mais por subtrair do que somar à versão do disco, no final das contas. Mesmo assim vale ouvir, é uma bela canção.

"This I Love" começa com uma introdução de piano e uma bela melodia, algo como um Queen dos anos 70, chegando a ser um pouco piegas. Há um violino ou sintetizador imitando violino de fundo também, e carece do mesmo problema de guitarra que "Catcher in the Rye". Tem também um solo a La Brian May, bem executado (provavelmente por Robin Finck, é mais a cara dele). Mas esta é a minha opinião sobre a música.

"Prostitute" começa com uma melodia pop, um tanto enjoativa, seguida por riffs pesados de guitarra, a esta altura, já característicos do novo Guns. E o álbum acaba aqui.

No final das contas, Chinese Democracy soa como um álbum com pitadas de Queen, letras auto indulgentes e tentativas fracas de soar como Nine Inch Nails. Se fosse diferente mas valesse a pena, eu até gostaria do álbum. A super produção, combinada a soma de retalhos, músicas que quase chegam lá mas não chegam, fazem deste disco um triste álbum, na minha opinião. Seria um interesante álbum solo de Axl, ou se fosse uma outra banda. Mas não dá pra entender porque Axl insiste em carregar o nome de sua antiga banda, ainda mais quando se conhece o som e oque rolava no processo de composição, como li na recente biografia de Slash. Uma pena mesmo.

2 comentários:

julião disse...

wagnânimo,

eu lembro muito bem de suas francas abordagens nos idos de 2002. principalmente aos que faziam pouco caso de músicas como "madagascar". quase fui agredido fisicamente... tempos difíceis.

wauchida disse...

Hahahahahah sensacional vc lembrar isso! Garantiu minhas risadas de domingo Julião rs...todavia, como vc viu no post, alerto: se tiver curiosidade, cheque as músicas em algum youtube da vida antes de comprar o álbum!