quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A Central Escrotinizadora e a Garagem de Joe


The Central Scrutinizer era um órgão censor e opressor que cuidava de controlar toda e qualquer forma de expressão que ameaçasse a ordem e os bons costumes puritanos da humanidade. A música, considerada a forma mais contraventora pelo regime do tal ”Big Brother”, acaba por ser proibida e quem a fazia sofria punição e censura. Não precisa nem falar que os critérios, eram, digamos assim meio "escrotos" hãm...

Entre outras coisas, essa é a linha mestra que segue a ópera-rock Joe´s Garagem, a obra-prima (
uma das várias que conseguiu fazer) de Frank Zappa, concebida em 1979 (o ano em que I was born). Éééé amiguinhos, antes de ópera-rock virar marca de roupa, esse termo já teve um significado mais digno na prática.

Joe é o anti-herói dessa epopéia e suas desventuras são contadas através de 3 atos (3 vinis triplos) musicais. O que Zappa queria na verdade era esculachar com toda a hipocrisia existente no mundo real: não faltaram críticas e referências para indústria fonográfica (ele costumava dizer que até 1975 músicos faziam música por música, depois apenas por business), para a crítica especializada da época (que o acusava de ser pornográfico em suas letras), para a igreja católica, feministas e revolucionárias sexuais, experiências pessoais e o escambau.

Em “Watermelon In Easter Hay “, Zappa se inspira no episódio em que esteve preso por ser acusado indevidamente de produzir pornografia ilegal (armaram para ele e pegaram ele e uma amiga, pulando em uma cama de hotel, fingindo sons eróticos para gravar em uma fita...uhauahuah). Na música ele transpõe todo o seu sentimento de frustação para o personagem que está preso e que não pode então tocar sua guitarra. Sua única maneira de continuar “tocando” é imaginando o solo perfeito que é a própria música instumental. Esse é um dos momentos mais belos do disco.

Na verdade, toda a obra de Zappa tem esse aspecto contestador da hipocrisia humana, e desde o seu primeiro disco Freak Out de 1966 ele já toca neste tema e sempre muito, mas muito humor. Freak Out, para adicionar aqui é considerado o primeiro disco conceitual e também o primeiro disco duplo da história do roque´n roll, mas isso é assunto para depois...
Para ser sincero, esse não é o meu disco preferido e nem primeiro que ouvi dele, mas aprendi a admirá-lo depois de ouvir, conhecer o contexto e ir entendendo as letras, e aí, chego no ponto em que queria chegar: a letra de Joe´s Garage.

Ao mesmo tempo que sua criatividade passa por todo o conceito acima e a produção musical é perfeita, complexa e gigantesca (são T-R-Ê-S discos), ele faz uma coisa que achei maravilhosa.

Chapei quando ouvi o primeiro verso da música:

“It wasn't very large
There was just enough room to cram the drums
In the corner over by the Dodge
It was a fifty-four
With a mashed up door
And a cheesy little amp
With a sign on the front said "Fender Champ"
And a second hand guitar
It was a Stratocaster with a whammy bar…”


Zappa simplesmete faz uma homenagem (para mim perfeita) à todo e qualquer ser humano que sequer uma vez na vida reuniu seus amigos para fazer um som! A garagem é a figuração do templo da música, o ponto de partida, onde sonhos e melodias nascem e...incomodam muitos vizinhos também!!! rs

Eu juro que quando ouvi pela primeira vez, entendi que esse pop-rock zappiano cabia perfeitamente nessa idéia. Foi isso que me veio à cabeça naquele momento. O som é alto astral, mistura elementos rítimicos variados e a letra é matadora.

Sobre o disco galera, tem muito mais coisa para falar, escrever e ouvir. São muitos detalhes e coisas interessantes que permeiam a história da obra, mas não quero me prolongar. Quem conferir, vai ver que é ele quem faz a voz da “Central”, meio robotizada e tem diversos personagens que interagem com ele. Entre outras curiosidades, saibam que a idéia inicial era fazer um musical na broadway, mas ele não conseguiu por falta de patrocínio e a famosa frase “Music is the Best” vem desse disco, da música “Packard Goose”.

Vale a pena ouvir o som, conferir a letra e todo o disco...!!

Para fazer o download:
http://www.4shared.com/file/26803145/9b2dc60d/2_1__-_joes_garage.html

Obs – o fato que me motivou a escrever esse tema, foi que na semana passada fui abordado “delicadamente” por uma variação da The Central Scrutinizer, chamada de “The Drudis Moderation Cabra-da-Peste Rulez“, uma que controla determinados blogs por aí. Como também gosto de uma boa música, como nosso amigo Joe, resolvi dar um talento e cá estou.... hugs!

sábado, 13 de outubro de 2007

Não há mais nada a perder!

Quando penso na expressão "não há nada a perder", imagino que ela pode assumir diversos significados, desde alguém obcecado que perdeu tudo, e pode fazer qualquer coisa para conseguir seus objetivos, como alguém que retirou um grande peso da vida, e está livre para curtir o que a vida tem de melhor, livre de qualquer encheção de paciência. Felizmente, é algo mais parecido com o segundo exemplo que permeia o terceiro (e excelente) álbum do Foo Fighters.

"There´s nothing left to lose", de 1999, está na lista dos 10 (e possivelmente dos 5) álbuns mais gostosos que já ouvi , juntamente com "Yield" do Pearl jam, de 1998. É um álbum melódico, pra cima e viciante, mais um dos que eu ouvi por mais de três meses consecutivos, praticamente todos os dias, e que colocou o FF como uma das bandas que eu tomei gosto em acompanhar e virei praticamente fã (pelo menos até a vinda de "one By One"...), junto com Pearl Jam, Soundgarden, Bush, Oasis, Blur, Smashing Pumpkins, Stone Temple Pilots e outras bandas/artistas bem selecionados. Definido na época como power-pop com rock, este álbum foi subestimado por alguns dos melhores veículos de música, como a Revista Rolling Stone americana, que classificou melhor o posterior "One by One". (Seria porque o quarto álbum do FF tirou uma lasca da modinha de bandas low profile capitaneadas pelos Strokes, e arrastada por algumas outras bandinhas fracas "indie" até hoje?)

Produzido por Adam Kasper (Pearl jam´s Riot Act ; Eddie vedder´s " Into the Wild"), "..Nothing Left..." foi gravado em sua maior parte no estúdio de Grohl na Virgínia, na primavera e no verão de 1999, e este clima de verão permeia todo o álbum, um clima de bom humor da banda que teria passado diretamente para a composição das músicas, que fez este álbum, curto mas na medida certa, ficar tão bom mesmo. Lançado no mundo no final de 1999, verão no Brasil, foi a trilha sonora do meu verão 1999/2000. De uma certa maneira, suas músicas são tão marcantes que você acaba se perguntando "como ninguém teve esta idéia antes?" . Este é um dos méritos do bom álbum setentista dos FF, mas lançado cerca de 20 anos depois da consagração deste estilo de rock.

Tal qual seu correspondente da banda de Eddie Vedder, "...Nothing left to Lose" é um álbum sucinto, perfeito, de algumas canções pop rock deliciosamente bem compostas, precedidas de um "tira-gosto" que abre o álbum.

O álbum faixa a faixa

A expressão "tira gosto" é proposital, e remete ao copinho de água com gás que bebemos antes de saborarmos um delicioso café espresso. E este efeito funciona mesmo: após ouvir por meses seguidos, tal qual um doce gostoso que nos habituamos a comer todos os dias quando nos viciamos, e depois nunca mais queremos passar perto dele, guardei este álbum no armário e nunca mais o ouvi. Anos depois, senti saudades deste álbum, após ouvir algumas músicas do novo álbum do FF claramente inspiradas nesta fase, como "Long Road To Ruin" e "Cheer Up Boys, Your Makeup Is Running", assim, voltei a ouvi-lo com regularidade. Seis anos depois, "...Nothing left to lose" continua muito bom mesmo.

Assim como o correspondente do Pearl jam, que abre com a pesada "Brain of JFK", este álbum abre com a pesada e ácida "Stacked Actors", mais uma das músicas que Dave Grohl compôs em ódio à viúva de Kurt Cobain. Ela possui um refrão que remete às últimas canções do Nirvana: pesada, bem trabalhada e com bons riffs. Combina clima calmo com explosões, mas de uma maneira mais refinada que o anterior "The Color & the Shape". Aliás, este refinamento é o que permeia (e fica bem mais explícito) em todas as faixas posteriores à esta.

Se "Stacked Actors" é o copinho de água com gás, é em "Breakout" que o álbum começa mesmo. Todas as características marcantes do álbum já aparecem aqui: refrões e estrofes melódicas, riffs de guitarra bem sacados e sujos na medida certa, alternância "no ponto" entre o vocais calmos e gritados de Dave Grohl, e a bateria de Taylor Hawkins, melhor do que nunca. A partir deste álbum, o que soa é que Taylor de fato deixou de ser o baterista da Alanis Morisette e asssumiu as baquetas de vez do FF. O já citado bom humor da banda não ficou restrito apenas às músicas, e produziu clipes engraçados, característica já consagrada do FF, como o clipe abaixo de "Breakout".






"Learn to Fly" foi a trilha sonora de um verão muito bacana para mim. Eu tinha me livrado do peso do colégio técnico, e estava voando para Florianópolis, desfrutando de uma merecida premiação da equipe do meu trabalho, bem coesa na época. O clipe, engraçado, se passava num avião, e sempre que o revejo (ver abaixo), me lembro de coisas engraçadas daquela viagem. Até hoje, estou para achar uma música mais legal para inaugurar qualquer primeiro dia de férias que venha acompanhado de uma boa viagem.






Vídeo de "Learn to Fly"

"Gimme Stitches" só confirma o clima bom do álbum. Rimas na medida certa, os bons riffs de Grohl, é incrível, até a ordem das músicas neste álbum parece encaixar perfeitamente. Abaixo, há um "fan vídeo" desta música.




Fan Vídeo, "Gimme Stitches"

A faixa seguinte, "Generator", apresenta uma curiosidade citada por 9 entre 9 críticos que resenharam este álbum: uma velha "talk box" que Dave usa para abrir a faixa, semelhante a usada por Peter Frampton ( ex vocalista do Humble Pie, autor do clássico "Frampton Comes Alive) nos idos anos 70.





Boa versão ao vivo de "Generator"

"Aurora", a sexta faixa do álbum, é uma das baladas de rock mais lindas que já ouvi, composta por qualquer banda. Ela remete um clima estranhamente familiar, uma saudade de algo que você não sabe o que. Abaixo, segue uma versão ao vivo da época do lançamento do álbum...




"Aurora", live version, 1999

Todo álbum tem uma música mais chatinha, mas no caso dos bons álbuns, mesmo estas são legais. "Live-in Skin" é esta música, e termina com um jogo legal de palavras:

"...Turn your insides out to the outside
Turn the outside in to the inside
Trade your outside in for the inside
Turn it around again..."

A canção seguinte, "Next Year", é uma balada que me traz recordações, saudades. Lembro me deste tipo de sensação sempre quando eu viajava para Palhoça/SC, olhando a cidade chegar da janela do ônibus. É uma saudade de reencontro, de lugares, de pessoas, precedida de promessa de volta mesmo...

"...Into the night we shine
Lighting the way we glide by
Catch me if I get too high When I come down
I'll be coming home next year..."




Vídeo de "Next Year"

"Headwires" começa doce, com uma batida oitentista que, ironicamente, anteciparia a emulação dos anos 80 do disco seguinte do FF. Emoção é uma característica marcante em todo o disco, mas o refrão desta faixa transmite uma sensação de lavar a alma mesmo.

O sentimento de saudades volta na balada que fecha o trio do disco. Dave Grohl define, na versão acústica da música abaixo, que "Ain´t It the Life" é sobre "voltar a Virgínia". Boa versão, mas eu prefiro a do disco.




"Ain´t It the Life", versão acústica da turnê "Skin and Bones".

O álbum fecha com a singela MIA, uma balada alternada com os bons gritos de Dave Grohl.

PS: Não me lembro se foi para este álbum ou para o "The Color & The Shape", mas algumas versões do álbum possuem como faixa bônus "Walking after you", balada tema do filme "Arquivo X"


Foo Fighters, "Walking after you"


Foo Fighters, "There´s Nothing Left to Lose", 1999

www.sendspace.com/file/nouhce

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Funk Carioca and ROLL.(from Curitiba)

Bonde do Rolê.
Já ouviram falar? Eu nunca tinha ouvido falar, mas na Europa todos perguntavam pra mim sobre essa banda, se eu já tinha ido em shows, e que eles eram "huge".
Eu respondia que conhecia, mas não me ligava muito, mais pra não passar vergonha por estar "out" do cenário musical brasileiro. Mas eu não estava. E que cenário? Pra combinar com o restante de merda que é esse país, nosso cenário musical é outra palhaçada. Para não entrar no mérito dessa questão de cenário musical, eu vou postar uma apresentação dessa "banda" curitibana, que é HUGE lá fora...

A formula do sucesso: Batida dançante (funk carioca), com guitarras e sintetizadores, 3 integrantes carismáticos, uma mulher vocalista e loops de clássicos do Rock and Roll, como AC/DC e Alice in Chains.

Musica: Nas letras, graças a Deus, não há influencia do funk carioca, onde os temas são variados e escrachados, não ligados a sexo diretamente. Um exemplo é a musica Vitiligo, que o refrão é algo como "Parece Vitiligo, mas é mancha de limão...Vai Vitiligo!!!"

Imagem: COm certeza, o escrachamento e a tosquisse é proposital e bem feita. Para eles serviu como uma luva.

Minha opinião: Eu odeio funk carioca, e odeio as letras de funk carioca. Mas mesmo que a maior virtude desses curitibanos seja apenas a sorte que eles tiveram, eles conseguiram atrair minha atenção, dar uma boa risada em um trecho ou outro de suas musicas, e não ter um nojo automatico, como todo funk que eu tinha ouvido até então.
Admirei, e indico as seguintes pérolas:

Office Boy:


Office Boy versão ao vivo na TV Inglesa:


Solta o Frango:


Vitiligo:


E vc?
O que acha desse sucesso fácil e repentino internacional, alcançado através da Internet...mas completamente livre dos nojentos jabás das rádios brasileiras?
Gostou do que viu?

Grite abaixo!

post ao som de Guns and Roses: Wild Horses